Marcos Paulo Bin
Em entrevista ao U.M., Jorge Vercilo disse que o CD Livre fechava um ciclo. Ele comprova isso com o novo disco, Signo de Ar, que tem sonoridade diferente dos anteriores
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Por Marcos Paulo Bin
12/04/2005
Jorge Vercilo é um herói. Com uma ótima turnê na estrada – ele foi o vencedor do
II Troféu U.M. por Melhor Show de MPB de 2004 – e no auge da carreira, o
cantor e compositor carioca teria tudo para seguir o caminho mais fácil e
rendoso da inevitável dobradinha CD/DVD ao vivo que assola o mercado fonográfico
brasileiro. Mas o caminho escolhido foi outro. Vercilo superou todas as
pressões, principalmente as da gravadora, e agora lança Signo de Ar (EMI),
seu 6° álbum de estúdio.
O disco vem repleto de novidades. De cara, a tradição se mantém: são poucas
faixas, apenas 10, todas inéditas e autorais. Porém, quando não compõe sozinho
ou com o velho amigo Jota Maranhão (Delicadeza), Vercilo apresenta os
novos parceiros. Os “novatos” na discografia do cantor são Ana Carolina (Ultra-Leve
Amor, Abismo), Dudu Falcão (Ciclo, Melhor Lugar) e Nico
Resende (Signo de Ar). Torcuato Mariano, diretor artístico de Elo
e Leve, estréia como produtor e parceiro de Vercilo, em Mandala.
Música faz citação a Michael Jackson
À exceção da politizada e espiritualizada Boas-Novas – com forte levada
de percussão, remetendo ao disco anterior, Livre – as letras continuam
românticas. As melodias, no entanto, trazem mudanças consideráveis. Como o
próprio Vercilo dissera em entrevista ao U.M.,
Livre fechou um ciclo, uma trinca de discos com sonoridade semelhante
formada ainda por Leve (terceiro trabalho do cantor, responsável por seu
estouro) e Elo.
A grande diferença de Signo de Ar, além do título maior, é o aumento na
quantidade de recursos sonoros utilizados. O que mais se destaca é a eletrônica,
com a qual Vercilo vinha flertando desde Leve.
O DJ Memê, que antes só fazia os remixes das faixas bônus, agora assina a
produção ao lado de Torcuato Mariano. Músicas como Signo de Ar,
verdadeiro batidão para as pistas, e a eletroacústica Você É Tudo têm as
duas mãos de Memê.
Programações eletrônicas também aparecem nas outras faixas, porém de forma mais
amena. Um exemplo é Ultra-Leve Amor, a 1ª faixa de trabalho. Conduzida
pela harmônica de Milton Guedes, pela guitarra suingada do ótimo Zeppa e com uma
sutil programação de bateria do DJ Memê, a música lembra bastante o sucesso
Leve, tanto pelas rimas quanto pelo estilo pop-dançante. Uma outra faixa que
se sobressai nessa linha é Mandala, que tem a mesma levada de bateria
(inclusive com os inconfundíveis riffs iniciais) de Rock with You, de
Michael Jackson.
No mais, as tradicionais baladas repletas de metáforas sobre o amor, com
destaque para Olhos de Ísis, com versos de extrema beleza, remetendo a
Fênix. Ainda nesse campo, vale citar também Delicadeza, com elaborado
arranjo de cordas do mestre Jota Moraes, e Ciclo, que será tema da
próxima novela da sete da Globo, “A Lua Me Disse”.
No final das contas, Signo de Ar não tem músicas de apelo comercial tão
forte como Final Feliz, Que Nem Maré ou Monalisa, os hits
da “trinca” que levaram seu autor ao estrelato. Mesmo assim, o Jorge Vercilo dos
discos anteriores está aqui. Com uma nova banda no estúdio, repleta de músicos
tarimbados como Chocolate, Armando Marçal (baterista e percussionista de Lulu
Santos, respectivamente), Jorjão Barreto (ex-tecladista de Gilberto Gil, hoje na
banda gospel Rota 33), Celso Fonseca (guitarra), Dunga (baixo), Jessé Sadoc, Zé
Canuto e Marcelo Martins (metais), entre outros, Vercilo tem a sabedoria de
inovar sem perder as características que lhe renderam tantos fãs. Um dom para
poucos.