Divulgação
Wagner Cinelli quer intensificar sua carreira de músico, mas não pensa em abandonar a profissão de advogado. “A questão é manter em equilíbrio aspectos de minha personalidade importantes para mim, o que inclui a música, mas não exclui outros”
|
|
|
Por
Leisa Ribeiro
17/12/2004
Wagner Cinelli se interessou pela música ainda criança, talvez pelas referências
musicais dadas por sua família. Mas a vida o levou por outros caminhos; ele
acabou se formando em Direito, Sociologia e Antropologia e hoje é juiz do
Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.
Mas a música sempre esteve presente em sua vida. Aos 40 anos, ele lança seu
primeiro CD, Wagner Cinelli Instrumental, que, como sugere o título, não
tem letras. O disco é repleto de composições ecléticas e autorais, que
misturam vários ritmos como jazz, bossa nova, baião e choro. Nele, o músico-juiz
toca teclado e é acompanhado de dois ex-companheiros da banda Hein?, que teve o
cantor Vinny em sua formação.
Confira a entrevista com Wagner Cinelli, que fala sobre a carreira e revela ser
um quase neto de Noel Rosa.
Quando você conheceu a música instrumental e por que o primeiro CD?
Meu contato com a música instrumental começou com o aprendizado do piano clássico,
a partir dos 6 anos de idade. Aos 13, comecei a estudar violão popular; foi
quando passei a transpor para o piano o que aprendia no violão. Interessei-me
então por choro, baião, bossa nova e jazz. O meu trabalho, entretanto, não
está limitado à música instrumental. O CD lançado é que privilegiou esse
tipo de música. O ponto comum das músicas ali contidas, apesar dos estilos
variados, é o fato de serem de minha autoria e serem todas instrumentais. Daí
o título Wagner Cinelli Instrumental.
Por que o primeiro CD só foi lançado aos 40 anos? Como foi a elaboração
deste trabalho?
Aos 20 anos, produzi e toquei no disco lançado pela banda Hein?, da qual era
tecladista. Participei, ainda naquela época, de discos de outros grupos. Depois
que terminei a faculdade de Direito não continuei no mercado musical. Fui
advogar e depois ingressei na magistratura. Entretanto, nunca parei de tocar e
compor. No ano passado, então, tive a idéia de registrar algumas de minhas músicas,
gravando-as em estúdio. De início, não pensava em lançar um CD. Mas à
medida que as gravações foram ocorrendo, essa idéia surgiu forte e o
resultado é o disco que aí está. Ou seja, não foi um trabalho premeditado,
mas que simplesmente aconteceu.
Como está sendo a receptividade do público nos shows?
Excelente! Os shows não ocorrem com a freqüência igual a de um artista que
vive exclusivamente da música. O lançamento do CD foi na Arlequim, no Paço
Imperial, em agosto. Em setembro e novembro estive no Mistura Fina, e em todas
as apresentações a casa estava lotada.
Como você faz para conciliar a carreira de músico com as outras formações
que tem?
Dedico-me integralmente à minha profissão de juiz. Tenho especialização em
criminologia e política criminal, dou palestras, escrevo artigos e livros nas
horas vagas. A música, assim como o meu interesse pela criminologia, é parte
inseparável de minha vida. Treino e ensaio à noite, nos finais de semana e
feriados. Além disso, sou pai de duas crianças, a mais nova recém-nascida, e
faço questão de assumir esse meu papel integralmente. Ponho filho para dormir,
acordo à noite sempre que necessário, levo ao médico, dou remédio, brinco e
vou à festa infantil. O tempo, portanto, é curto, e a única forma de lidar
com ele é com disciplina. Do contrário, não daria para fazer a metade.
Quais os projetos que você tem para sua carreira musical? Pretende deixar
algum oficio para se dedicar à música?
O projeto imediato para a carreira musical é fazer algumas apresentações no
início de 2005, além de atender a uma agenda de entrevistas em programas de rádio,
de forma a divulgar o CD. Em seguida, pretendo iniciar a gravação do segundo
disco, que terá músicas instrumentais e também cantadas. Quanto a se pretendo
deixar algum ofício para me dedicar à música, a resposta é negativa. Como
disse, a questão é manter em equilíbrio aspectos de minha personalidade
importantes para mim, o que certamente inclui a música, mas não exclui outros.
Na banda Hein? você tocava junto com o Vinny? Como foi essa experiência?
O Vinny foi cantor da banda. Gravamos disco, fizemos shows e nos apresentamos em
programas de rádio e televisão. Éramos cinco integrantes. À exceção do
Vinny, que era mais novo que os demais, concluímos faculdade no mesmo ano. Foi
depois do término de nossos cursos universitários que o grupo se desfez. Cada
um seguiu o seu caminho profissional fora da música. Dois foram ser arquitetos,
um professor de artes e eu segui pela advocacia. Um dos arquitetos é o Carlos
Abrantes, que é meu cunhado e toca bateria no CD. O professor de artes é o Hélio
Graça-Filho, que toca baixo em várias faixas. Gravar esse CD, portanto,
possibilitou o reencontro musical de três dos integrantes da extinta banda.
Uma curiosidade: é verdade que sua avó teve um relacionamento com Noel
Rosa? Você pode comentar alguma coisa?
Minha avó Clara foi namorada de Noel Rosa. Namoraram por cerca de seis anos e a
mãe de Noel sempre fez muito gosto que se casassem. Mas Noel tornou-se cada vez
mais boêmio, enquanto minha avó era do tipo “para casar”. Ele casou-se com
Lindaura, vindo a falecer em 1937, aos 26 anos de idade. Naquele mesmo ano minha
avó casava-se com Príncipe Cinelli, com quem teve duas filhas. Minha avó
faleceu há 20 anos, aos 71 anos de idade, mas trago na memória seus relatos
sobre seu namoro com Noel. Algumas vezes peguei-a suspirando ao me ver tocando
violão, e numa dessas vezes ela me disse que aquela cena lhe fazia lembrar de
Noel. Contava que ele fazia-lhe serenatas e que foi por causa dela que ele compôs
duas músicas: Prazer em Conhecê-lo e Não Morre Tão Cedo.