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Por Marcos Paulo Bin Em recente entrevista ao UNIVERSO MUSICAL, que pode ser lida na seção Samba/Pagode, Teresa Cristina deu uma declaração certeira: “O rádio não traduz o que as pessoas querem ouvir, mas sim o que as grandes gravadoras querem que toque. Existem muitas músicas e músicos bons a serem descobertos. Cartola e Nelson Cavaquinho, por exemplo, todo mundo diz que gosta e que ouve em casa, mas você não escuta as músicas deles no rádio.” Se Teresa – que, apesar de não ser presença constante no dial, é de uma gravadora de porte médio (Deckdisc) e teve a “sorte” (talvez essa não seja a palavra adequada) de ter uma música tocando na novela das oito global (Quantas Lágrimas, tema de “Celebridade”) – tem essa opinião, o que pensarão os milhões de artistas independentes que não conseguem divulgar seu trabalho nas rádios e na TV? E outra coisa: Teresa se referia a músicas e músicos antigos, que permanecem desconhecidos ou não têm grande apelo popular devido ao famigerado jabá. E os novos artistas que surgem a cada dia, a cada esquina, então? O que será deles? Preocupados com essas e outras questões, algumas rádios comunitárias fluminenses e músicos independentes se reuniram, no dia 1º de junho, para protestar. O local escolhido foi a Praça XV, no Centro do Rio, e a data, justamente o Dia da Imprensa. O grupo foi liderado por Carlos Salles, jornalista e locutor da rádio niteroiense Pop Goiaba, da Universidade Federal Fluminense (UFF). Em atividade desde junho de 2003, a emissora foi fechada em abril último pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), sob a alegação de que já existe uma concessão para uma rádio da Igreja São Judas Tadeu, também em Niterói. O problema é que, segundo Carlos, essa concessão existe há cinco anos, mas a emissora até hoje não entrou no ar. “A legislação é muito clara quando diz que você tem seis meses para colocar a rádio para funcionar. A Anatel e o Ministério das Comunicações preferem renovar uma concessão que não funciona do que botar uma em uma universidade, com um conteúdo fabuloso, voltado para a cultura. Isso é a cara do Brasil de todos os tempos”, dispara Carlos, que pede alterações na lei. “Nossa luta é a favor das rádios comunitárias. Queremos a mudança nessa legislação, que é uma camisa-de-força que impede a comunicação neste país e a inclusão da música alternativa. A Anatel e o Ministério estão trabalhando contra o conteúdo, fechando uma rádio como a nossa e deixando outras tantas abertas sem o menor compromisso com a cultura.” Ex-locutor de grandes emissoras como a Fluminense e a Globo FM, Carlos também mostra indignação com o jabá, que é o dinheiro que as rádios cobram das gravadoras para tocarem determinados artistas. “O jabá mostra a falta de conteúdo e de ética que impera nos meios de comunicação. É um trabalho de exclusão, ou seja, vale tudo pelo dinheiro. Ninguém tem compromisso com a cultura, com a educação ou com o conteúdo. Uma rádio que tem concessão pública, que deveria ter compromissos com o que é público, ou seja, a cultura, só tem o compromisso de ganhar dinheiro.” Gilvoneique de Souza, o Gil, locutor da rádio comunitária Juventude FM 90,7, de Nova Iguaçu, foi até a Praça XV apoiar o movimento. A emissora existe desde 91, e no começo enfrentou os mesmos problemas da Pop Goiaba. “Também fomos fechados pela Anatel, algumas pessoas foram presas, mas logo entramos com recurso e demos entrada a todas as documentações. Hoje só falta um documento, mas já temos a licença. Acredito que se a Agência ou o Ministério tentarem fechar a rádio hoje terão problemas, pois nós temos uma interação muito grande com a comunidade.” Gil entra no coro contra as atitudes tomadas pelos grandes veículos de comunicação. “A mídia massifica quem está no topo, mas quem está lá embaixo também merece espaço, até para que um dia chegue no topo. As rádios que estão lá em cima só divulgam quem paga, então não têm contato direto com o público ou o artista. Elas se resumem a comerciais caros e à mídia que as financia. Enquanto isso, o povo fica excluído.” Antes
aberta a todos os estilos musicais, hoje a Alternativa focou sua programação
musical na MPB e no pop-rock. Mas Gil garante que, sendo desses estilos,
qualquer artista tem espaço na emissora. “Pode chegar lá com um CD que a
gente toca e ainda faz um merchandising. Existem bandas que apareceram lá sem
serem conhecidas por ninguém, e hoje as pessoas pedem as músicas delas na
programação.”
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