Divulgação/Manoel Guimarães
Jorge Aragão diz que não tem medo de misturar ritmos como rap e forró ao samba. “Não posso ter medo de arriscar nada em se tratando de ritmo; acho que posso fazer uma proposta de samba diferente”, diz o cantor
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Por
Leisa Ribeiro
Jorge Aragão é citado pela crítica como um dos melhores instrumentistas,
compositores e cantores que o Brasil possui desde a década de 80. Em fevereiro,
o sambista aproveitou os bons fluidos da virada do ano e a proximidade do
carnaval para lançar seu 17º disco solo, Da Noite pro Dia, pela Indie
Records. “O Liber (Gadelha, presidente da gravadora) me chamou para
fazer um trabalho com representatividade e topei na hora”, conta Jorge, muito
animado com o resultado. A música de trabalho do CD é A Canção E O Vento,
e a faixa Vendi Meu Peixe faz parte da trilha sonora da novela
“Celebridade”.
Com muita ousadia, o mestre do samba trouxe para este CD diversas misturas
musicais. São riffs de metais, uma versão do hit Can’t Take My Eyes off
You, feita pelo próprio Jorge, assim como a polêmica O Iraque É Aqui,
onde ele descreve a violência carioca. Tem ainda funk, rap, forró, tudo
misturado ao samba que o compositor sempre fez muito bem. “Não posso ter medo
de arriscar nada em se tratando de ritmo; acho que posso fazer uma proposta de
samba diferente. Como autor, eu quero experimentar sempre”, justifica o
compositor, que ainda colhe os louros do seu último trabalho, Convida Ao
Vivo, que gerou seu primeiro DVD. “A resposta do DVD está sendo excelente
até hoje, mas eu precisava fazer um trabalho diferenciado”.
E para quem pensa que o CD foi feito da noite para o dia, ele faz questão de
esclarecer que não é bem assim. “O nome deste CD representa o momento que
vivo, meu estado de espírito ultimamente. Posso estar de cabelo preso e da
noite para o dia deixá-lo solto. Posso estar de óculos e da noite para o dia
tirá-lo. Na verdade, para realizar Da Noite pro Dia foram mais de 30
dias.”
Samba popular brasileiro
Com uma formação musical que vem das bandas de baile, Jorge Aragão nunca
permitiu que o samba saísse de cena em seus trabalhos, apesar de gostar de
experimentar instrumentos e parcerias. “Hoje tenho de tudo na minha banda. Sei
que as críticas aparecem por conta disso, mas o artista tem que saber levá-las.
Eu não posso negar a tecnologia, mas também não posso esquecer todo o
resto”, explica o cantor, que tem o hábito de gravar
somente o que gosta e por isso teve dificuldades para escolher o repertório
do CD. “Tinha tanta coisa bonita, ouvi muita gente nova, de tudo mesmo. Mas a
música tem que estar totalmente certa, inclusive o arranjo, com o que eu quero
e no momento certo.”
Ao ser questionado sobre a questão da pirataria, Jorge Aragão tem sua opinião
formada sobre o assunto. “Para a gravadora estar defasada hoje é porque um
dia ela já ganhou muito dinheiro. Então, se eles quiserem ser meus parceiros,
tudo bem. Vamos compor e fazer shows juntos, mas dar percentual do meu show,
isso nunca. A pirataria está aí hoje porque alguém bobiou lá atrás e esse
alguém não fui eu.”
Outro assunto que deixa o compositor irritado são as rádios segmentadas, que
dizem tocar música popular brasileira. “Samba é um tipo de música popular
do Brasil. Se um samba é cantado por Milton Nascimento ou pela Maria Bethânia
a tal rádio toca, mas um Zeca Pagodinho ela não toca, assim como não toca
Jorge Aragão.”
Ninguém duvida que o sucesso deste CD vai vir da noite pro dia, assim como
outros trabalhos que retratam o talento de Jorge Aragão.