Alcione (na foto, na nova sede da Indie Records), em seu novo disco, homenageia os compositores que mandam as músicas que se tornam sucesso em sua voz. “Quero que o povo valorize o autor”, diz a cantora
|
|
|
Por
Marcos Paulo Bin
Em 2003, na coletiva de lançamento do CD Ao Vivo 2, Alcione se disse tão
empolgada com o formato – seu primeiro disco ao vivo em quase 30 anos fora lançado
um ano antes, com muito sucesso – que era até possível que seu próximo
disco se chamasse Ao Vivo 3. Mas a cantora mudou de idéia e agora está
lançando Faz Uma Loucura por Mim (Indie Records), com 17 faixas de estúdio,
a maioria inédita.
“Eu falei que até lançaria, pois dessa forma não me comprometia”,
despistou Marrom, em coletiva na nova sede da Indie, no Rio. “Hoje, neste
mundo globalizado, as coisas acontecem muito rápido; não dá pra prever nada.
Eu estava sentindo que meu público queria um disco de inéditas.”
Mas não era só o público que queria. Alcione disse que desde o primeiro disco
ao vivo estava recebendo muitas composições. “Os autores queriam mostrar seu
trabalho. Eu estava com um acúmulo muito grande músicas boas”, contou a
Marrom.
Entre os compositores escolhidos, há desde velhos amigos de Alcione como Jorge
Aragão (É O Amor, com Nilton Barros), Nei Lopes (Ritmo do Jazz,
com Magnu Souza), Dona Yvone Lara (Razão E Nostalgia, com Bruno Castro)
e a dupla Michael Sullivan e Carlos Colla (Contra A Correnteza) até
autores gravados por ela pela primeira vez, como Vander Lee (Mais Um Barco),
Telma Tavares (A Sangue Frio, com Roque Ferreira) e Serginho Meriti (A
Que Mais Deixa Saudade). “Meus discos sempre terão espaço para os medalhões,
que emocionam a cada nova canção, e para os novos talentos”, justifica
Alcione.
Os compositores, aliás, são um dos homenageados de Faz Uma Loucura por Mim.
Na coletiva, a Marrom afirmou que pretende, em seus shows, ajudar para o púbico
conheça quem são os responsáveis pelos sucessos em sua voz. “Quero que o
povo valorize o autor. Estou pensando em levar para os palcos uma fita e mostrar
ao público um trecho da canção da forma como ela chegou até mim. Quero
mostrar porque a música me emocionou”, disse Marrom. O outro homenageado do
disco é o radialista Luiz Carlos Paladino (ex-JB FM do Rio, entre outras
emissoras), fã declarado de Alcione que morreu recentemente.
Música de trabalho é sucesso no rádio e na TV
Embora tenha parado de reler seus sucessos ao vivo, Alcione não conseguiu se
ver livre do passado em seu novo CD. A primeira faixa de trabalho do disco é Você
Me Vira A Cabeça (Me Tira do Sério), gravada originalmente em A Paixão
Tem Memória, de 2001, último disco de Alcione pela Universal. A música já
é um grande sucesso nas rádios, ajudada pela execução maciça na novela das
sete da Rede Globo, “Da Cor do Pecado”.
Esta é, na verdade, a terceira vez que a Marrom grava Você Me Vira A Cabeça.
Mariozinho Rocha, que escolhe o repertório das novelas globais, conheceu
exatamente a segunda versão, registrada ano passado em Ao Vivo 2. “O
Mariozinho queria uma música minha para incluir na novela, porque parte dela é
ambientada no Maranhão. Soube que ele gostou de Você Me Vira A Cabeça,
mas uma versão ao vivo não pode entrar na novela. Então eu a regravei em estúdio
e decidi incluir neste disco”, explicou a cantora maranhense, ressaltando que
não ficou chateada porque uma música antiga foi escolhida para puxar o disco.
“Quando eu gravei Você Me Vira A Cabeça em A Paixão Tem Memória
eu punha fé que ela faria sucesso, mas não aconteceu nada. Em Ao Vivo 2
a Indie e eu pensamos em trabalhar a música nas rádios, só que isso acabou não
ocorrendo. Mas agora estou feliz, porque a música é muito forte, não podia
ficar perdida.”
Essa não é a única regravação de Faz Uma Loucura por Mim. Há também
uma releitura de Na Hora da Raiva, canção obscura da dupla Roberto e
Erasmo que foi gravada por Wanderléia. A música chegou a Alcione – que já
havia gravado outra canção da dupla, Olha – através do presidente da
Indie Records, Líber Gadelha. “Ele me disse: escuta e me diga o que acha.
Adorei. Só fiquei com raiva de eu não ter descoberto essa música!”, brincou
Marrom.
Além de Você Me Vira A Cabeça, Alcione tem outro sucesso nas rádios
no momento: Não Tem Saída, gravada em dueto com Belo para a coletânea As
Melhores do Ano IV. A cantora, que nos últimos anos tem aproximado a
sonoridade de suas músicas a dos grupos de pagode romântico dos anos 90 (ela já
gravou com Alexandre Pires, Péricles e outros), é uma defensora do gênero.
“Quem começou com o samba romântico foi o Gilson de Souza. Mas, antes dos
pagodeiros dos anos 90, Agepê, eu e outros já fazíamos músicas assim. Só
que esses grupos fizeram com que os jovens se aproximassem do samba, tanto o que
eles fazem como o dos artistas mais antigos, como Zeca Pagodinho, Alcione e Beth
Carvalho. A chegada deles foi muito saudável”, avalia a Marrom.
Alcione também rasga-se ao falar de Belo. Ela disse não estar nem aí para os
bochichos que possam surgir pelo fato de ela cantar ao lado do pagodeiro,
envolvido com problemas policiais. “Nossos horários não bateram, então cada
um gravou em um estúdio; não olhamos um para a cara do outro. Mas eu fiz questão
de fazer esse dueto, porque o Belo canta muito e porque a música é boa. Além
disso, fiquei comovida com a história dele. Não podem acabar com uma carreira
assim como querem fazer com ele”, disse Alcione.
Com o mesmo afinco que defende os pagodeiros, a cantora luta pelos interesses da
indústria fonográfica. Uma das artistas que estão na linha de frente no
combate à pirataria, Alcione discorda completamente da decisão da Associação
Brasileira de Produtores de Discos (ABPD) de reduzir de 100 mil para 50 mil a
quantidade mínima de unidades vendidas para se obter o disco de ouro. Ela
lamenta que seu novo CD, que já sai com 75 mil cópias vendidas, não tenha
recebido o prêmio ainda. “Eu tenho 23 discos de ouro e platina, quando para
ganhar ouro tinha que vender 200 mil e platina, 500 mil. Agora eles reduziram de
novo. O mercado brasileiro não merecia isso.”