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Ouvir Zélia Duncan cantar sambas, choros, valsas e outros gêneros menos radiofônicos com tamanha propriedade em ‘Eu Me Transformo em Outras’ é uma experiência da qual não se sai impune. Por isso, é impossível não destacar entre as 16 faixas de ‘Pré-Pós-Tudo-Bossa-Band’, 8º CD da cantora, as 4 últimas, onde ela evidencia as marcas deixadas pelo trabalho anterior. ‘Diz nos Meus Olhos (Inclemência)’ é um sofisticado choro de Guerra-Peixe que ganhou letra à altura de Zélia. A cantora também letrou o samba suingado ‘Redentor’ (melodia de Beto Villares), a jazzística ‘Não’ (Moska) e o sambão ‘Quisera Eu’ (Lulu Santos), que ficou com ares de samba-enredo. Encerrando o CD, a poética ‘Milágrimas’, parceria de Alice Ruiz e Itamar Assumpção, que assina outras 3 faixas. A música aparece num dueto emocionante de Zélia com Anelis, filha de Itamar, morto em 2003. As outras 10 faixas do disco transitam entre pop, rock, reggae e blues, com forte presença da percussão. Soam como um bônus de luxo, dada a qualidade das canções e, em especial, das letras. A melhor delas é ‘Vi, Não Vivi’ (Itamar e Christiaan Oyens), um pop que tem tudo para emplacar nas rádios. Vale citar ainda a faixa-título, belo puxão de orelhas que Zélia, numa parceria com Lenine, dá na sociedade egocentrista contemporânea, e ‘Mãos Atadas’, um blues de Simone Saback cantado com Frejat em homenagem a Cássia Eller. Zélia Duncan volta a ser ‘todas’, mas as ‘outras’ continuam sendo inesquecíveis. (M.P.B.)
17/07/2005
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